A morte de um passarinho
Esse texto é dedicado a todos os meus amigos virtuais, desde a Máquina de Quadrinhos, passando pelo Tumblr, até o Bluesky
O Twitter está morto. Viva o novo Twitter.
Acho que esse é um bom resumo da situação refugiada tuiteira que tem sido assunto na internet nas últimas semanas. Depois que o Supremo suspendeu a rede social no Brasil por conta das imprudências do dono, o bilionário Elon Musk, toda uma cultura do brasileiro no Twitter foi degradada e não há previsão de que ela volte algum dia. Na verdade, essa degradação começou quando Musk comprou o Twitter e o rebatizou de X, mas o banimento do site em terra brasilis veio para selar, de uma vez por todas, o fim de tudo o que a marca do passarinho azul representou no Brasil.
O ano era 2017. Eu usava grupos do Facebook para pessoas que escreviam fics e, num deles, conheci um amigo e resolvi criar um Twitter para segui-lo por lá. Hoje nem falo mais com esse amigo, mas usei o Twitter até a semana passada, de uma forma mais ou menos regular. As pessoas que conheci no Twitter influenciaram meu gosto por literatura, música, e admito que até mesmo um pouco da minha opinião política. Por outro lado, o site ficou cada vez mais tóxico com o tempo e eu já não conseguia mais usá-lo como antes. Então foi com grande alívio que recebi a notícia do banimento da rede no Brasil. Consideraria até mesmo um serviço prestado à população.
Tantos sentimentos contraditórios despertados por um simples app de passarinho são mesmo algo que apenas o século XXI poderia nos proporcionar. De início, eu me sentia um pouco como um peixe fora d’água no Twitter. Não fazia parte de praticamente nenhum fandom famoso e nem gostava de sites de fofoca. Mas logo o meu nicho apareceria, principalmente quando a minha eu adolescente resolveu virar cinéfila e conhecer o pessoal que também era fã de filmes exploitation europeus dos anos 1970 e 1980. E essa é a magia da internet: me conectar com pessoas que eu jamais conheceria se procurasse apenas na minha bolha de escola particular teresinense. Além disso, aquela foi a época em que as pautas sociais estavam, com todo o vapor, centralizando o debate público. Mesmo que nem sempre de um jeito tão proveitoso, o Twitter foi uma das redes sociais que me colocou em contato com debates sobre o feminismo e o movimento LGBT, e, novamente, me fez conhecer pessoas com pensamentos e valores como os meus.
Mas, por outro lado, depois da pandemia eu comecei a me desencantar das redes sociais e achar que elas me faziam mal, porque eu não tinha realmente um controle sobre meu uso. Aprender mais sobre as big techs e ler o livro Dez Argumentos Para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais com certeza contribuíram para essa nova visão. Então, de 2022 a 2023, eu apaguei os apps de rede social do meu celular e sumi com minha terceira conta do twitter (as minhas contas adolescentes tinham sido apagadas porque eu achei cringe depois de um tempo). Foi um ano bastante proveitoso para meu autocontrole.
Em 2023, tentei voltar a usar o Twitter - agora batizado de X - mas não era mais a mesma coisa. Além de estar sem paciência com o algoritmo que promovia picuinhas e não mostrava mais tanto meus mutuals, eu também era contra as decisões sobre moderação que a nova administração do site estava tomando. Então, continuei usando o ex-Twitter para interagir com uns amigos virtuais dos velhos tempos, divulgar minha newsletter e acompanhar a trend da Hatsune Miku multinacional, mas com a esperança de que, um dia, tudo aquilo fosse sumir. E sumiu. Eu estava na beira-mar em Fortaleza quando constatei que o Supremo iria mesmo banir o site. Tranquei minha conta e deletei o app pela última vez. Foi o adeus derradeiro a um site que usei durante uns seis anos.
Duas semanas, para o internauta podem significar anos. Eu não fiquei tão chocada com o fim do Twitter, uma vez que outras opções já estavam disponíveis. O velho Tumblr continuava lá com suas imagens aesthetic e posts engraçados e irônicos. O novo Bluesky tinha um clima mais aconchegante e realmente me fazia sentir segura em postar links de textos e matérias que continham o meu sobrenome, coisa que não se repetiria no finado passarinho. Outras pessoas da minha idade estavam levemente perdidas com o fim do fórum de tretas virtuais, mas; depois dessas duas semanas, ouso dizer que a maioria do meu círculo virtual já se adaptou no Bluesky - a rede da borboleta que está despontando no Brasil.
Ao longo dos anos, a internet se tornou um espaço tóxico e dominado por monopólios; porém, sua potencialidade de nos conectar com outras pessoas e nos ajudar a descobrir um novo mundo ainda está lá. A cibercultura, mais do que nunca, também representa uma parte significativa da nossa vida, especialmente para nós, jovens nascidos depois de 1995.
Agora, o acesso aos antigos acervos de memes do Twitter se foi. Nada de links de drive ou nada do que estava na aba “salvos”. Toda uma era da internet sepultada por motivos de força maior, assim como aconteceu com o Orkut. Nos resta lutar pela construção de uma web mais descentralizada e menos tóxica no futuro. Além, claro, de olhar as capturas do Twitter no Internet Archive também. Quem sabe.
Meu porta-treco
✩ Recentemente visitei Fortaleza e, entre outras coisas, fui ao restaurante coreano K-Bab. Minha primeira vez comendo arroz coreano frito e já achei ótimo. Também há opções para nós, vegetarianos. Para completar, o lugar é bem aconchegante e fica próximo à Beira-Mar. Uma ótima recomendação para quem é de Fortaleza ou vai viajar pra lá.
✩ E, falando, em Fortaleza, visitei o Dragão do Mar pela primeira vez. É um lugar maravilhoso, tanto do ponto de vista arquitetônico quanto do ponto de vista cultural. Achei as passarelas lindas. Tem tudo que você possa imaginar: museus de arte, livrarias, café, planetário, cinema…Assisti o filme Motel Destino lá no Cinema do Dragão, porque nada mais justo do que assistir um filme cearense no Ceará. A estrutura da sala é muito boa e confortável, além de que o preço é bem convidativo. Sobre Motel Destino: é um filme bem divertido, empolgante e que de fato mostra a essência do litoral cearense (mesmo com tantas cenas em locais fechados). A trilha sonora, com muito forró, e a iluminação neon combinaram perfeitamente. Enfim, recomendo tanto o filme quanto o Dragão do Mar.
A tela do cinema
Vista do planetário depois do filme
✩ (Aviso: esse ponto contém spoilers de Shoujo Kakumei Utena) Terminei de rever Shoujo Kakumei Utena. Mudei de opinião sobre a Nanami, agora para mim ela é só uma menina com problemas de apego e que está em fase de crescimento. O final em si sempre acaba comigo, mas a libertação da Anthy faz tudo valer a pena. Ela sempre foi a personagem que eu mais me identifiquei nesse anime, com o seu amor pelos animais, sorriso enigmático e pelo fato de não ser fácil criar vínculos com ela. Agora estou considerando jogar o jogo de Utena. Eu já li o mangá, mas vou deixar pra comentar em outra edição
✩ (Aviso: esse ponto contém spoilers da segunda temporada de Shtisel) Ainda estou assistindo Shtisel, já na metade da segunda temporada. Eu acho fascinante o quanto a maioria dos personagens não tem o direito de ser feliz nessa série. Não sei como a Giti ainda não teve um surto ainda pior estando tão sobrecarregada. O Akiva ganhou o prêmio de arte, mas a satisfação não durou muito também. E a Ruchami…eu entendo ela e entendo a mãe dela, mesmo sendo uma situação antagônica.
✩ Finalizei minha leitura de Morangos Mofados um pouco antes de viajar para Fortaleza. O livro começa melancólico e nostálgico, depois fala de solidão e desejo, e então no conto final temos uma epifania. Caio Fernando Abreu retrata com maestria as frustrações e descobertas de sua geração. Alguns dos meus contos favoritos foram Além do Ponto, Luz e Sombra, Sargento Garcia e Aqueles Dois.
Links
@ Matéria do Mangue Jornalismo sobre o desaparecimento da vegetação nativa de Sergipe.
@ + uma matéria d’O Joio e O Trigo sobre a rotulagem climática da carne e o porquê da sua importância.
@ Para os que lêem em espanhol, aqui está uma lista de cinco reportagens para entender melhor quem foi Alberto Fujimori e tudo que ele fez no Peru.
@ E essa é uma outra lista do Núcleo Jornalismo sobre algumas ferramentas úteis que você pode usar no Bluesky, caso ainda não tenha se familiarizado.
@ Ando pesquisando muito sobre sereias para uma possível história que quero escrever, e esbarrei nesse vídeo sobre todo o mito delas e como ele se construiu ao redor do mundo. Achei as meninas muito simpáticas, inclusive.
@ Draculala. Eu sei que esse vídeo não é novo, mas eu acho tão engraçado e queria compartilhar com vocês.
não consigo evitar de pensar que você foi o arauto do fim do twitter quando criou a conta e o site foi banido coisa de um, dois meses depois kkkkk adorei o texto!!