Créditos: Magwood
Eu acho que sou agnóstica. Tudo bem que a minha visão sobre espiritualidade mudou muito desde que eu era adolescente, mas talvez o agnosticismo ainda seja a melhor definição para mim. Porém, o que não posso negar é que acredito que existem fantasmas. Inclusive “moro” com uma.
Frequento o apartamento da minha tia desde que ele foi finalizado, em meados de 2011, e depois de 2019 acabei morando por aqui. Nesse tempo todo, eu percebo que não há dúvidas: existe, no apartamento, uma mulher que não é nenhuma das minhas tias, nem minha mãe e nem sou eu. Ela está quase sempre no corredor ou no banheiro, mas já apareceu na sala também. Costuma ignorar nossa presença, mas um dia caminhou na minha direção como naquela cena de Kairo. Foi a única vez que ela pareceu me ver também.
Seria um ser de outra dimensão? Uma entidade? Talvez uma pessoa morta? Eu não consigo imaginar muitas explicações para esse fenômeno que já dura mais de uma década. Ela não passa de um vulto com contornos femininos que aparece na visão periférica e algumas vezes na visão mais direta. Nunca vi seu rosto e não sei se ela tem um. Não sei se é um ser benigno, maligno, ou simplesmente perdido no além de alguma forma. Mas tenho certeza de que ela existe e nunca foi embora.
A perspectiva de uma vida após a morte, por ser incompreensível, se torna assustadora. Quando criança, eu tinha um certo medo de ir para o inferno porque sabia que não era santa, mas nunca pensei em mim mesma como um ser vagante que gera espanto nas pessoas vivas. Minha primeira experiência sobrenatural, segundo uma das minhas tias, foi quando eu era bem criança, com menos de três anos, e insistia que tinha uma mulher olhando para mim da janela. A minha tia disse que a mulher era Nossa Senhora, mas eu não estou certa disso.
Eu não sei se eu atraio esse tipo de acontecimento ou se foi mera imaginação, mas tenho lembranças de pelo menos mais dois supostos fantasmas que tive contato. Um deles foi em 2008, na minha antiga casa, e era uma menina do meu tamanho. Ela também era só um vulto branco. Apareceu perto da cama durante um tempo e depois sumiu. Eu fiquei semanas dormindo com o travesseiro na cara.
O segundo foi um espectro no corredor da escola. Minha amiga e eu tínhamos saído da capela, onde ocorria uma missa noturna e resolvemos ir até o banheiro das meninas naquele corredor imenso, à noite, com as luzes apagadas. Grande ideia, certo? Acontece que, na volta, algo passou perto de nós e depois sumiu. Nós vimos aquele vulto e fugimos dali o mais rápido possível. Até hoje não sei se foi fantasma ou outra pessoa viva que estava por perto. De qualquer forma, não é indicado andar sozinho por áreas isoladas durante a noite.
Esses fantasmas, para mim, habitam o limiar entre a impressão e a imaginação. Pode ser que realmente estejam lá, mas também pode ser que nunca tenham estado em lugar nenhum. Bom, exceto a mulher de branco no meu prédio. Eu tenho certeza que ela é real e está aqui mesmo agora.
O ser humano acredita no que acredita por diversos motivos. Busca de sentido, comunidade, ou mesmo validação dos próprios valores. Até hoje, eu não consegui achar o motivo claro do porquê às vezes eu acho que vejo fantasmas e seres de outro mundo. Pode ser minha própria suscetibilidade ou eles podem ser reais. Talvez esses fenômenos nunca parem.
Meu porta-treco
✩ Como dito na edição passada, eu resolvi ler o mangá de Shoujo Kakumei Utena. A arte e alguns pontos do enredo são bons, mas faltou o aprofundamento em alguns personagens, como a Juri e o Miki, diferente do que ocorreu no anime. O final em si foi mais “explicado” e eu gostei de ver a Anthy com as roupas diferentes. Queria jogar o jogo de Utena também, aquele que é uma visual novel.
✩ Há um tempo atrás assisti I Saw the TV Glow, mas não comentei por aqui, o que foi um erro. No filme, o verdadeiro terror é incorporado por nunca alcançar a vida que você queria e que te faria feliz, sendo obrigado a viver preso numa vida medíocre. O medo de continuar estagnado no mesmo lugar e sem chances de evoluir é um sentimento pouco explorado no terror, mas aqui foi expressado perfeitamente pelo Sr. Melancolia, vilão do seriado The Pink Opaque. A trilha sonora combinou perfeitamente com a temática, e a estética cheia de luzes brilhantes, arcades e bares solitários contribuíram para a atmosfera nostálgica do filme.
✩ Minha leitura atual é Rota 66, livro-reportagem de Caco Barcellos sobre a violência de alguns homens da Rota, batalhão da polícia militar de São Paulo. Comprei esse no Salipi algum tempo atrás. É interessante ver o quanto era diferente para conseguir dados e apurá-los nas décadas de 1970 e 1980, principalmente porque não existia Lei de Acesso à Informação. Uma das passagens que mais me chamou a atenção até agora foi quando o Caco e um estudante de jornalismo contratado por el tiveram que ficar vários meses indo a uma sala insalubre do IML de São Paulo para ler e apurar melhor as condições dos cadáveres que chegavam ali e tinham sido vítimas de violência (quando vivos). Acontece que era preciso copiar tudo a mão de um por um. Me admira bastante a persistência.
✩ Outro filme que assisti esses dias foi Jerk. Lançada em 2021, a película retrata a história do assassino em série Dean Corll, que aterrorizou o Texas nos anos 1970. Poderia ser só mais um filme estilo true crime, se não fosse encenado como um documentário e narrado por um dos adolescentes comparsas do criminoso. Há anos na prisão, David Brooks utiliza o teatro de bonecos para retratar a confusa e perigosa época em que testemunhou as mortes perpetuadas por Corll e Wayne Henley. Brooks relembra seu romance complicado com Henley e como a situação entre os três foi escalando até ficar insustentável. Por meio das vozes dos bonecos e da tensão na expressão do protagonista, percebemos o quanto as consequências daqueles assassinatos o perseguem mesmo após a passagem do tempo.
✩ Assisti ao primeiro episódio de Além da Imaginação (no original, The Twilight Zone), a original de 1959. É impressionante como um único ator e uma cidade vazia conseguem criar uma atmosfera solitária, angustiante e assustadora. Eu realmente não esperava pelo final e ele me pareceu ter uma mensagem importante.
Links
@ Matéria d’O Eco sobre créditos de biodiversidade.
@ Se você tem LinkedIn, sabia que o site está usando seus dados para treinar IA? Conheça mais detalhes aqui, nessa matéria d’O Núcleo.
@ O canal Blind Dweller é um bom lugar para ver vídeos mais longos sobre arte. Ele já falou sobre a Yuko Tatsushima, o Odilon Redon, a Marina Abramovic e o Hans Bellmer.
@ Vídeo antigo do canal Yil sobre a carreira da modelo cazaque Ruslana Korshunova, que foi encontrada morta em Nova York em 2008 após supostamente se jogar de um prédio. Ruslana passou por momentos difíceis antes de chegar nesse ponto, como se envolver em um culto em Moscou.